O episódio da chamada CPI da Última Hora é paradigmático no que diz respeito às relações entre imprensa e política naquela época. A criação do jornal em 1951 foi incentivada pelo presidente Getúlio Vargas, que desde a campanha eleitoral enfrentava a “conspiração do silêncio” que a imprensa armara contra ele. Assim, para a fundação da Última Hora, Samuel Wainer conseguiu crédito junto a instituições oficiais.
O conteúdo do jornal, de defesa do nacionalismo e do trabalhismo, feria os interesses dos inimigos políticos de Vargas. Moveu-se contra Wainer e o seu jornal a maior campanha de que se tem notícia na história da imprensa brasileira.
A campanha contra a Última Hora, iniciada por Carlos Lacerda e Assis Chateaubriand, ocupou os jornais, as revistas, o rádio, a televisão e o parlamento. As acusações principais foram de dumping, concorrência desleal e favoritismo oficial. Mas Wainer teve de enfrentar também a denúncia feita por Lacerda, através da sua Tribuna da Imprensa, de que ele era estrangeiro, e que portanto, de acordo com a Constituição, não poderia possuir ou dirigir qualquer órgão de imprensa no País.
A CPI concluiu ter havido favorecimento do Banco do Brasil, mas, a despeito dos esforços dos inimigos de Vargas, não foi possível comprovar qualquer intervenção do presidente na realização de tais transações, ficando desse modo afastada a possibilidade do impeachment.